PEDRO SOARES DOS SANTOS

Presidente e Administrador-Delegado

2017 foi um ano marcante sob várias perspectivas, ao longo do qual se observou uma imprevisibilidade global crescente.

Na União Europeia, e do ponto de vista político, foi um ano de emoções fortes. Na Alemanha, Angela Merkel conseguiu a reeleição para um quarto mandato, mas sofreu uma queda considerável dos resultados eleitorais do seu partido (CDU), que registou o pior resultado desde 1949.

A mudança mais estrutural, porém, foi iniciada pela entrada em força da extrema-direita no Bundestag alemão, com a conquista de 94 mandatos pela AfD, que se tornou, assim, na terceira força política germânica. É a primeira vez que, na história da Alemanha do pós-guerra, uma força claramente de extrema-direita chega ao Parlamento. E acontece naquela que foi a primeira eleição federal realizada desde que, em 2015, o Governo liderado por Angela Merkel abriu as portas a um fluxo de migrantes e refugiados, deixando entrar no país mais de um milhão de pessoas.

Ano de Recordes

Em 2017, batemos todos os recordes de vendas, reforçámos consecutivamente as posições de mercado de todas as nossas insígnias e mantivemo-nos entre os maiores retalhistas do mundo.

Confirmando o recrudescimento dos nacionalismos e da extrema-direita na Europa, também na Holanda o partido anti-islão, anti-imigração e anti-europeu de Geert Wilders (PVV) passou de 12 para 20 lugares no Parlamento. É actualmente o segundo maior partido, mesmo tendo falhado o seu objectivo de tornar-se na maior força parlamentar holandesa.

Em 2017, a nota de sinal contrário chegou-nos de França, com a vitória esmagadora de Emmanuel Macron na segunda volta das Presidenciais, contra Marine Le Pen – 66,1% contra 33,9%. Uma vitória que se repetiu logo a seguir, nas legislativas, com o recém-formado partido de Macron a conquistar a maioria dos votos dos eleitores, que apoiaram, de forma inequívoca, a visão reformadora, pró-europeia e inclusiva do novo Presidente da França.

Em Portugal, seguiu-se com particular atenção a crise na vizinha Catalunha, que se encontra politicamente fracturada, esperando-se uma desaceleração da economia espanhola que, a acontecer, não deixará de afectar Portugal dado o peso de Espanha como importante país de destino das exportações portuguesas (cerca de 25% do total).

Para os portugueses, o ano de 2017 ficará, mais do que qualquer outra coisa, inelutavelmente associado à tragédia dos incêndios florestais. Perderam-se, pelo menos, 112 vidas humanas e, de acordo com a estimativa do Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, terão ardido aproximadamente 500 mil hectares, incluindo o insubstituível Pinhal de Leiria, com cerca de 700 anos de história. A desolação provocada por esta destruição violenta, face à qual o Estado falhou no seu dever de protecção de pessoas e bens, ensombrou as notícias positivas registadas na vertente económica. De facto, a saída do procedimento por défice excessivo e a subida do rating da República Portuguesa são bons indicadores de recuperação, ainda que o equilíbrio seja instável, designadamente tendo em conta a contestação, que deverá aumentar, nos sectores sociais do Estado e também as reformas estruturais que continuam por fazer.

16,3 mil milhões de euros

O volume de negócios do Grupo atingiu os 16,3 mil milhões de euros em 2017, 11,3% acima do ano anterior, impulsionado por um crescimento de 6,6% do like-for-like.

No Grupo Jerónimo Martins, no ano em que celebrámos os 225 anos de actividade comercial, ultrapassámos os 100.000 colaboradores e renovámos a nossa identidade visual corporativa num exercício de rebranding que procurou equilibrar legado e modernidade. Em 2017, batemos todos os recordes de vendas, reforçámos consecutivamente as posições de mercado de todas as nossas insígnias e mantivemo-nos entre os maiores retalhistas do mundo, mais concretamente na 56.ª posição, a nossa melhor de sempre no ranking “Global Powers of Retailing 2018”, um estudo da consultora Deloitte com a revista norte-americana “Stores”.

Foram 12 meses desafiantes, de forte investimento na expansão dos negócios internacionais, e de exigência máxima nos nossos três mercados: Portugal, Polónia e Colômbia. O foco nas vendas, através do investimento no reforço do posicionamento de preço e na experiência de compra, revelou-se eficaz: o volume de negócios do Grupo atingiu os 16,3 mil milhões de euros em 2017, 11,3% acima do ano anterior, impulsionado por um crescimento de 6,6% do like-for-like.

Os resultados líquidos atribuíveis a Jerónimo Martins ascenderam a 385 milhões de euros, o que representa, em termos comparáveis (i.e. excluindo a contribuição da Monterroio em 2016), um incremento de 6,7%.

O Grupo investiu 724 milhões de euros, dos quais cerca de metade foram canalizados para a abertura de novas lojas e Centros de Distribuição e mais de um terço foi alocado a remodelações do parque de lojas em Portugal e na Polónia.

O Grupo manteve-se como um investidor relevante e determinado nos mercados onde opera, tendo reforçado o montante de capex para os 724 milhões de euros, dos quais cerca de metade alocados a expansão (novas lojas e Centros de Distribuição) e mais de um terço a projectos de remodelação profunda dos parques de lojas em Portugal e na Polónia.

A Biedronka absorveu 354 milhões de euros de investimento 49% do total), que destinou às 121 aberturas de loja, à inauguração do novo Centro de Distribuição e às 226 remodelações realizados no ano.

Do ponto de vista do consumo, a Polónia vive um ambiente favorável, estimulado pela queda do desemprego, a aceleração dos aumentos salariais e a melhoria global das condições de vida das famílias também em resultado do programa Family 500 plus.

Aproveitando a oportunidade gerada pela tendência de aumento da diferenciação e do valor do cabaz de compra, a Biedronka multiplicou as iniciativas de melhoria da qualidade da oferta, reforçando a inovação e atractividade do sortido. Ao mesmo tempo, teve o sentido de oportunidade e a agilidade para ler o mercado e responder com promoções específicas de produtos e também com fortes acções temporárias, reforçando a competitividade do seu posicionamento e a sua liderança de preço.

As vendas totais da Biedronka aumentaram 13,2% para os 11,1 mil milhões de euros, num ano em que a Biedronka terminou com 2.823 localizações.

Assumindo o desempenho like-for-like como a sua principal prioridade, a Companhia atingiu 8,6% de crescimento no ano. As vendas totais aumentaram 13,2% (+10,4% em moeda local), para os 11,1 mil milhões de euros, num ano em que a Biedronka terminou com 2.823 localizações.

Gerindo um equilíbrio difícil entre alargar as fronteiras do seu modelo e manter a eficiência da estrutura de custos, num contexto em que esta está sob pressão acrescida relacionada sobretudo com os investimentos na melhoria contínua da remuneração, benefícios e programas de apoio aos colaboradores, a Biedronka atingiu um EBITDA de 805 milhões de euros (+11% a taxa de câmbio constante), mantendo a respectiva margem sensivelmente em linha com o ano anterior (7,3%).

Em Portugal, um mercado maduro e fortemente concorrencial, as nossas companhias voltaram a demonstrar resiliência, força e solidez.

3,1%

Foi o crescimento das vendas do Pingo Doce em 2017, tendo atingido os 3,7 mil milhões de euros.

O Pingo Doce encerrou 2017 com vendas totais de 3,7 mil milhões de euros, mais 3,1% que no ano anterior, e mais 1% quando considerado o mesmo parque de lojas.

Para além da intensidade promocional e da aposta na inovação, designadamente com o lançamento de 185 novas referências na Marca Própria, as vendas totais beneficiaram ainda da aposta na expansão selectiva e na permanente melhoria do serviço logístico às lojas e da experiência de compra dos clientes. Esta aposta reflectiu-se em nove adições líquidas ao parque de lojas realizadas ao longo do ano, 44 remodelações e na inauguração, no Norte de Portugal, do mais moderno Centro de Distribuição de toda a nossa rede, que, no total, representaram 102 milhões de euros de investimento da Companhia.

Reconhecendo a contribuição decisiva das equipas para o desempenho operacional e para o nível de serviço e qualidade global da experiência oferecida aos clientes, a Companhia iniciou em Outubro uma revisão dos pacotes remuneratórios. Esta opção teve um expectável impacto ao nível do EBITDA, que, cifrando-se nos 188 milhões de euros, recuou 1,6% face a 2016.

O Recheio soube aproveitar a dinâmica muito positiva da actividade turística em Portugal, ao mesmo tempo que reforçou a vertente internacional, terminando o ano com exportações para 25 países, distribuídos por quatro continentes. Quando considerado o mesmo parque de lojas, as suas vendas aumentaram uns expressivos 6,2% no ano e o crescimento total do volume de negócios foi de 7,2%, para os 942 milhões de euros, beneficiando também da nova loja aberta em Vila Nova de Gaia (a 39.ª da cadeia) e da relocalização da plataforma de Food-Service do Porto.

O Recheio soube aproveitar a dinâmica muito positiva da actividade turística em Portugal, ao mesmo tempo que reforçou a vertente internacional.

Com um EBITDA de 50 milhões de euros (+6,7% face a 2016), e apesar do investimento realizado para impulsionar as vendas, o Recheio manteve a margem EBITDA nos 5,3%, em linha com a do ano anterior, numa clara demonstração de capacidade de preservação da sua disciplina de custos e dos níveis de eficiência.

No que diz respeito aos nossos negócios ainda não lucrativos, a Hebe melhorou de forma consistente a diferenciação e competitividade da sua proposta e conseguiu provar que tem um conceito e um modelo de negócio com um potencial de desenvolvimento interessante. As vendas totais aumentaram 35,7% em relação a 2016, para os 166 milhões de euros, num ano em que a insígnia abriu 30 lojas, chegando a 31 de Dezembro com uma rede total de 182 localizações.

A Hebe melhorou de forma consistente a diferenciação e competitividade da sua proposta.

Na Colômbia, onde o processo de paz é hoje considerado irreversível, continuamos focados em construir o caminho de crescimento futuro para a Ara. Presente em três regiões, a nossa cadeia colombiana alcançou vendas de 405 milhões de euros, 72% acima do ano anterior, apesar de alguma irregularidade registada nos níveis de confiança do consumidor. Este desempenho traduz o esforço contínuo de ajustamento da proposta às especificidades regionais dos padrões de consumo e também a nossa própria curva de aprendizagem das necessidades e preferências dos consumidores colombianos.

A Companhia foi capaz de entregar aquela que era a sua principal prioridade para 2017: acelerar a expansão da rede para reforçar presença e capilaridade. Cumprindo com um programa de investimento de 169 milhões de euros, a Ara abriu 169 lojas – ou seja, uma nova loja a cada dois dias – das quais 77 nos últimos três meses do ano. Isto significa que a Companhia mais do que duplicou o número de aberturas face a 2016, ao mesmo tempo que prosseguiu os investimentos na infra-estrutura logística.

169 lojas na Colômbia

Cumprindo com um programa de investimento de 169 milhões de euros, a Ara abriu 169 lojas – ou seja, uma nova loja a cada dois dias.

Em 2017, a Ara foi responsável por 88% dos 85 milhões de euros de perdas registadas ao nível do EBITDA, sendo os restantes imputáveis à Hebe, que mantém sustentada a sua tendência ascendente em direcção à rentabilidade. Excluindo a diluição provocada pelas perdas registadas nestes novos negócios, o EBITDA consolidado teria crescido 9,0%, com uma margem de 6,4% sobre as vendas.

O EBITDA consolidado cifrou-se em 922 milhões de euros (+4,7%, a taxas de câmbio constantes, face a 2016), com a margem a situar-se nos 5,7%, num ano de investimento relevante, o que demonstra bem a força do desempenho de vendas das nossas Companhias. Além disso, mantemos inabalada a robustez do nosso balanço, tendo terminado o ano com uma posição líquida de caixa de 170 milhões de euros.

Dada a sólida situação financeira em que o Grupo se encontra, e considerando que a flexibilidade para financiar oportunidades de crescimento presentes ou futuras não será comprometida, o Conselho de Administração de Jerónimo Martins proporá à Assembleia Geral de Accionistas o pagamento de um dividendo de cerca de 385 milhões de euros relativo aos lucros do exercício de 2017. Esta proposta corresponde a um payout de 100%, que, pelo segundo ano consecutivo e a título excepcional, se cifra em cerca do dobro do que resultaria da aplicação da política de dividendos em vigor.

Entrámos, pois, pujantes e bem preparados em 2018, mais um ano em que faremos do crescimento a primeira prioridade estratégica e a fonte de toda a nossa motivação.

Continuaremos a investir fortemente nos nossos negócios, empenhados no aperfeiçoamento contínuo do equilíbrio entre rentabilidade e sustentabilidade. É esta gestão que nos garante, simultaneamente, um lugar entre os maiores retalhistas do mundo e a inclusão em importantes índices internacionais de sustentabilidade que distinguem as melhores companhias que investem no desenvolvimento dos seus negócios a longo prazo através de um elevado desempenho também nas áreas social, ambiental e de governo.

Estes resultados e a consideração também do longo prazo na condução dos negócios não seriam possíveis sem o apoio dos investidores de Jerónimo Martins, e em particular do seu accionista maioritário, e a sua solidariedade com a missão e a estratégia que prosseguimos. A todos dirijo a minha gratidão e perante todos renovo o meu compromisso de continuar a liderar o Grupo no sentido do crescimento rentável e sustentável.

Deixo uma nota de reconhecimento e apreço aos meus colegas no Conselho de Administração pelo seu valioso contributo para a visão que nos guia e a confiança sempre demonstrada na nossa capacidade de execução e de entrega. Às minhas equipas agradeço a paixão, o compromisso e a competência que fazem de nós aquilo que somos e que nos conduzem, dia após dia, até onde nos leva a nossa ambição.

Pedro Soares dos Santos
Presidente e Administrador-Delegado